Projetos de Pesquisa
Linha 1
África-Brasil: relações políticas, econômicas, sociais e culturais
Temos assistido nos últimos anos a uma inegável intensificação das relações entre África e Brasil, cobrindo um cada vez maior número de áreas de atividade e envolvendo um igualmente crescente número de profissionais. Neste processo, para além das tradicionais relações econômicas, sociais, políticas e culturais, também os movimentos migratórios conheceram novas fases, assim como a pesquisa e o ensino sobre África conheceram um notável desenvolvimento, especialmente desde que se tornou obrigatório o ensino de História da África e da Cultura Afro-brasileira nas instituições de ensino, públicas e privadas, no Brasil por via da Lei 10.639/2003. Tem sido um processo de várias vias e perspectivas que importa debater, pesquisar e analisar, reconhecendo a importância da relação com África para a valorização de uma importante matriz cultural do Brasil e com um crescente relevo para as políticas futuras. Várias serão as questões que se procurarão investigar nesse projeto como a de perceber se existe a descoberta de uma “nova” África resultante da pesquisa e ensino das várias realidades do continente. Existe uma nova percepção da importância do continente para as relações internacionais resultante desse percurso? Existe uma recuperação da dignidade do africano em África e dos seus descendentes na diáspora resultante desse ensino? Esse percurso tem contribuído para influenciar as relações econômicas, políticas e sociais com o continente? Como é que essa problemática é vista a partir de África e de fora dela? Qual o caráter, o peso e a relevância dos novos movimentos migratórios entre África e Brasil? Quais as apropriações culturais a partir do trânsito de pessoas, ideias e bens culturais? Como a lei 10.639/2003 foi apropriada nas escolas brasileiras?
Grupos e populações com direitos ameaçados: xenofobia, racismo, políticas públicas e relações internacionais
O projeto analisa as práticas sociais e políticas que constituem territorialidades e identidades de grupos e populações com direitos ameaçados. Pretende compreender as estratégias de ação do Estado e as formas de ação de grupos atingidos por processo de modernização econômica e sócio-espacial, minorias étnico-raciais, gênero, moradores em espaço de segregação, entre outros, e a maneira como esses formam memórias e lugares de pertencimento. Ao longo do século XX e XXI, os processos e conflitos sócio-políticos que transcorreram no Brasil e no mundo foram fundamentais para definir direitos, construir territorialidades e estabelecer relações de identidade. Paralelo a um processo de expansão da cidadania, ocorrem várias situações econômicas, sociais e políticas que perpetuam a desfiliação de indivíduos e grupos nas sociedades. Reconhecer esses atores torna-se um tema central na História, Geografia, Ciência Política, Antropologia e Sociologia, em diferentes paradigmas analíticos. Estabelecendo um escopo de análise interdisciplinar, as pesquisas reunidas nesse projeto reconstroem diferentes percursos analíticos que tem como foco o debate sobre as populações com direitos ameaçados no Brasil e no mundo.
Questões étnico-raciais na dimensão das políticas públicas, do trabalho, da cultura e da produção intelectual
As pesquisas no campo das políticas públicas se desdobram em vários campos de investigação, a exemplo dos projetos no campo da saúde, da educação, do urbanismo, das populações em risco, da diversidade de gênero, das relações étnico-raciais, da literatura, da arte, do território e das territorialidades. Os pesquisadores reunidos nesse projeto transitam por todas essas temáticas a partir de projetos no campo das ciências socais, das artes e da filosofia. Tais pesquisas se organizaram em torno de políticas públicas e de trajetórias de intelectuais ligados as ciências, a literatura, a engenharia, a educação e as artes. Apesar da diversidade, tais investigações têm como ponto de convergência o estudo de temas ligados a construção das nações, as diásporas, aos movimentos libertários e libertadores, e a organização da sociedade civil. Acreditamos que os estudos em desenvolvimento colocam questões que podem ser melhor compreendidas ao tratarmos homens e mulheres imersos numa construção sociológica, política e cultural, e articulados em redes de sociabilidade, em circuitos acadêmicos, literários, religiosos e políticos.
Linha 2
Arte como Linguagens: modos de fazer, viver e sentir identidades e pertencimentos étnico-raciais
Historicamente, as trajetórias sócio-históricas, políticas e cosmológicas de grupos afro-brasileiros, afro-ameríndios, afro-latinos, afro-caribenhos e africanos no Brasil e América Latina constituíram diversas modalidades e linguagens artísticas, memórias, práticas culturais e modos de fazer e viver coletivos constituidores de identidades e de pertença étnico-racial com matrizes provindas do legado civilizatório negro africano. O projeto de pesquisa em questão trata das diferentes linguagens artísticas e suas facetas (música, literatura, estética, poética, gestual, dança, sonoridade, oralidade, teatralidade) e modos de fazer e viver (filosofia, religiosidade, práticas festivas, associações políticas e culturais com enfoque artístico/estético, movimentos sociais e luta antirracista por via da cultura e da cultura política) para (re)viver as diversas pertenças étnico-raciais afro-brasileiras (de raça, gênero e classe social) como formas específicas e (re)produtoras de saberes provenientes do legado civilizatório negro africano no mundo contemporâneo. Tal proposta permeia o campo artístico com viés inter e multidisciplinar. Neste sentido, a construção de etnicidades na(s) cultura(s) e arte(s) requer instrumental interpretativo que conduz a trajetórias de pensamento disseminadas em variados campos de saber, para além do campo artístico propriamente dito. Desta forma, elencamos relevantes corpus teóricos que se configuram como potências para a análise e entendimento das territorialidades possíveis na longa duração e na configuração de subjetividades, ancoradas em identidades étnicas.
Mídia, narrativa e identidade: raça e racismo numa perspectiva sócio-discursiva
O presente projeto de pesquisa visa ao estudo das construções sócio-históricas de raça e racismo nas relações dialógicas com textos (orais, escritos, fílmicos, televisivos, imagéticos, digitais, musicais etc.) e em modos narrativizados de se construir sentido sobre as identidades e o mundo social. Partindo da indissocialibilidade entre discurso, sociedade e identidades, o projeto focaliza a dimensão sócio-discursiva dos construtos de raça e racismo, considerando que as pessoas constroem suas identidades nos engajamentos em práticas discursivas localizadas na história e na cultura. Ao engajarem-se discursivamente, os atores sociais acionam seus valores, suas crenças, seus sistemas de conhecimento, suas histórias de vida e suas identidades sociais. Não podemos, assim, isentar a linguagem e suas distintas formas de expressão de sua carga ideológica, dissociá-la do seu uso, nem ignorar os efeitos políticos e éticos que emergem dessa prática. Do mesmo modo, o projeto debruça-se sobre as práticas identitárias como importante paradigma de se fazer pesquisa e de compreensão do mundo social na contemporaneidade. Interessa, aqui, o estudo de estratégias de auto-construção e de legitimação de sentidos nas instituições ou na vida cotidiana. Certas práticas identitárias se constroem a fim de legitimar determinados significados e identidades em detrimentos de outros, o que provoca um silenciamento e uma exclusão das identidades ditas diferentes à experiência normativa. Acreditamos que enfocar a dinâmica da vida social, bem como a centralidade do discurso, das narrativas e das interações mediadas por textos permite vislumbrar transformações na sociedade e rupturas nas estruturas sociais que reproduzem injustiças e sofrimento e que perpetuam formas perversas de expressão do racismo, do sexismo, da homofobia, da xenofobia e de outras formas de exclusão.
Racismos, identidades e discursos: construção de sentido e produção de subjetividade
Este projeto tem por objetivo refletir acerca de repertórios/discursos que abordem as questões étnico-raciais, a partir do campo dos Estudos da Linguagem, buscando ampliar as discussões em torno das problemáticas específicas da população negra e, consequentemente, contribuir para a desconstrução de ideias preconcebidas no que tange ao estereótipo racial. Para tal, buscamos a articulação entre práticas de linguagem em diferentes suportes, entendendo, como Bakhtin (1929/1979), que o outro em novos contextos dialógicos é quem possibilita a ressignificação do eu. Desse modo, esperamos poder contribuir com reflexões sobre os modos de produção de subjetividade, bem como indicar possíveis ajustes nos encaminhamentos em Análise do discurso para análises que conjuguem construção de sentido e problematizações das técnicas de controle social e formas de expressão de resistência (FOUCAULT, 1979, 1996, 2004). Nossa opção pelas práticas de linguagem considera uma abordagem discursiva (MAINGUENEAU, 1997, 2001, 2005, 2007), que possibilita observar a relação entre textos e entorno como processos de gêneses simultâneas. No que se refere especificamente ao racismo, uma evidente construção social, psicológica, afetiva, cognitiva, e que, por isso, pode ser desaprendido, dialogamos com Munanga (2006), Hall (2006), Guimarães (2009) e Fanon (2008, 2013).
Redes Sociais